Briques Escolares

Provavelmente você já presenciou aqueles negócios na escola, também chamados de “briques”, (ou escambo, se você estudou durante a idade média). Eu não gostava de fazer estes negócios, sempre fui muito apegado com as minhas coisas, mas um dos briques vou relatar aqui.

Em um momento troquei algo por um fusca em miniatura da Hot Wheels. Valeu a pena, pois nem lembro do que me desfiz para conseguir ele. A minha impressão é que ele era azul escuro ou roxo. Em uma das brincadeiras aconteceu um imprevisto, uma das rodas se soltou, e como não veio chave de roda, macaco ou estepe, recorri ao zelador da escola. Eu e meus amigos o ajudávamos algumas vezes durante o recreio, então ele prontamente aceitou a tarefa e consertou a roda usando um alicate.

A minha alegria durou pouco. Um tempo depois, talvez no mesmo dia, impelido por aquela adrenalina que move Las Vegas e Wall Street, fiz um acordo com um colega de classe: ele ficaria com o meu fusca, de uma marca famosa e feito de metal, em troca de um Ioiô, pedaço de plástico ressecado pendurado em um barbante e com procedência duvidosa. Mais tarde ele completaria com um real para ficar mais “justo”. Vale ressaltar que “naquela época o dinheiro tinha valor”.

Acordo feito, me despedi do fusquinha, e comecei a tentar fazer aquela coisa subir o barbante e encaixar na minha mão, técnica que não sei até hoje. Acreditando naquela filosofia de que tudo pode ser conquistado pela força, o arremessei com vontade para baixo, mas calculei errado o comprimento do barbante em relação ao piso, e logo vi as duas partes rolando uma para cada lado. Dessa vez o zelador não pôde me ajudar, mas guardei o brinquedo, esperando um dia em que inventassem uma cola mais potente. e hoje quando fui procurar para fotografar e ilustrar essa crônica, não o achei em lugar nenhum, provavelmente alguém que desconhecia o meu projeto de restauração o atirou ao lixo.

Não tinha como desfazer o acordo, foi imprudência minha que causou aquela fratura. Então como consolo, aguardava a minha moeda com ansiedade, mas pelo que eu lembro, não a recebi.

Mas como quem Vacila vira Crônica (risos malévolos), lembrei de um recreio épico na escola. Eu e meus amigos bolinhas de gude no pátio, em um lugar onde haviam sido enterradas fossas a grama ainda não havia crescido. O irmão mais velho do garoto que me devia a moeda veio acompanhado de outro garoto, e do nada deu um “chá de cueca” em um colega que estava de pé nos assistindo tranquilo com seu prato de comida.

Caso você não saiba o que é esse “chá de cueca” ao qual eu me refiro, o marmanjo pegou o elástico da calça do meu colega e ergueu. Nem preciso dizer que é muito desconfortável (sim, já fizeram comigo).

Pelo que eu me lembro, aquele foi um caso peculiar, o menino suspendeu o meu colega pela calça, que se desequilibrou com o prato de comida e foi com o peito para a frente, derramando o lanche em nossa “arena” de bolinhas de gude. Os pais dos envolvidos foram chamados, e talvez tenha dado algum processo judicial. Ouvi que a avó do meu colega exigiu uma cueca nova, sim, segundo o boato, a outra rasgou durante o chá.

O pedaço de carne perdido com o incidente estava atrapalhando o nosso jogo, então alguém (esse “alguém” talvez até tenha sido eu), o chutou para longe.

Uma nota ao meu colega que foi o alvo do chá: lembro de você rindo conosco do ocorrido, então acredito que não seja errado escrever sobre isso. Talvez você leia essa crônica e ria novamente.

Publicado originalmente em 31 de Dezembro de 2021.


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