Era brincadeira

Alice chegou em casa e decidiu organizar e limpar a cozinha, havia planejando essa faxina a semanas, estava cansada do trabalho, mas a pressão mental para realizar a tarefa foi maior. Começou lavando a louça, mas foi interrompida por uma ligação. Era Marcela, sua melhor amiga desde a infância. Estranhou a ligação pois as duas sempre conversavam pelo Whats.

— Rápido Alice, vista a pior roupa que você tiver e desça aqui na rua!

— Onde a gente vai?

— Rápido! — Gritou Marcela, antes de desligar.

Alice estava com a roupa de faxina e decidiu não trocar, pelo desespero da amiga as duas não iam para uma festa, devia ser mais algum ataque neurótico da amiga que a algumas semanas havia terminado o namoro. Desceu o prédio e encontrou o carro da amiga na rua. Olhou pelo vidro.

— O que aconteceu? Espero que seja importante pra interromper a minha faxina!

— Entra aí!

O carro já estava ligado e Alice mal fechou a porta quando Marcela cantou os pneus. Dirigiu para fora da cidade.

— Por que a pressa? Morreu alguém? — Alice tentou animar a amiga. Marcela não respondeu.

— Lembra que você disse que era pra te chamar caso precisasse pra qualquer coisa?

— Que te ajudaria até a … Marcela? Você não está me levando pra enterrar um corpo? Está?

— Corpo não, cadáver.

— E qual a diferença? Me explica agora Marcela! — Falou Alice quase gritando.

— Corpo anda sozinho, cadáver não!

— Eu falei aquilo brincando! Meu objetivo era evitar que você ficasse louca a ponto de matar o Felipe, e não te ajudar a enterrar ele.

Marcela parou o carro no acostamento, estavam fora da cidade.

— Desculpa Alice, você foi a única que falou isso e quando tudo aconteceu eu só lembrei de você! Pensei que mesmo que você falou brincando, ainda seria a pessoa mais disposta a me ajudar com isso.

Marcela começou a chorar. Alice não sabia o que fazer.

— Você pensou em contar tudo pra polícia?

— Contar que eu matei o meu ex namorado por ciúmes? Eu sou uma assassina Alice! Pode me ajudar?

— Que escolha eu tenho? Estou em um carro com uma amiga louca que matou o ex namorado e pode me matar também. Como a gente vai fazer isso?

— Não sei, nunca precisei enterrar ninguém.

— Eu também, não é sempre que uma amiga mata o ex namorado. Tive uma ideia! — Falou tirando o celular do bolso.

— Não ligue para a polícia.

— Não, pra o Golias, se ele não estiver morto nem preso, pode ajudar a gente.

Publicado originalmente em 11 de Setembro de 2020.


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