Norberto estava em sua última hora de trabalho do dia, levando os alunos para casa com o seu ônibus escolar. Restava ainda um aluno dentro do ônibus, o Ricardo, um menino teimoso e inquieto. Norberto deu uma espiada no retrovisor e enxergou Ricardo furando o banco estofado do ônibus com a tesoura.
— Que é isso menino atentado ? Depredando o meu ônibus? Sabe a fortuna que me cobram pra estofar um banco assim ? Mas é a sua mãe quem vai pagar! — disse Norberto gritando.
Ricardo apenas deu de ombros.
— Venha já pra frente onde eu possa ver caso você faça mais uma gracinha ! — disse Norberto muito irado.
Ricardo se levantou do banco e foi sentar em um outro perto de Norberto. Mas não perdeu tempo e já começou a furar aquele banco também. Norberto que se controlava pra não cometer um delito, parou o ônibus, tirou o cinto de segurança e foi a passos raivosos até Ricardo. Ninguém testava sua paciência assim a anos.
— O que foi que eu falei pra você menino ? Parece que você tem o poder da destruição !
Ricardo permaneceu quieto e tentava não olhar nos olhos do motorista. Norberto tomou a tesoura do menino, voltou para o seu lugar e dirigiu até a casa de Ricardo. Abriu a porta do Ônibus e falou pra Ricardo:
— Vá lá chamar a sua mãe !
O menino pegou a mochila, saiu do Ônibus e entrou correndo em casa. Norberto também saiu do ônibus enquanto ensaiava as frases para falar com a mãe de Ricardo. A mulher saiu de casa e o menino veio atrás, querendo ouvir a conversa.
— Boa tarde! — começou Norberto.
— Boa tarde! O que houve ?
— Seu filho cortou dois bancos do ônibus com essa tesoura. — Tirou a tesoura do bolso e entregou para a mãe do menino.
— E ? — Pediu a mulher em tom de zombaria.
— A senhora tem que pagar! Cada banco desses custa uma fortuna, e o seu filho não pensou nisso quando estava depredando.
— O senhor tem provas disso ?
— Do que ? Do preço dos bancos ou do seu filho depredando ?
— Do meu filho supostamente depredando.
— Ora essa! Tenho os cortes nos bancos pra provar.
— Só ? Pode ter sido outra pessoa !
— Eu vi ele cortando !
— Tem alguma testemunha ?
— Uma testemunha que viu ele depredando ?
— Sim !
— Eu vi !
— Uma testemunha não vale, é necessário duas. E você é o principal acusador.
— Eu acuso porque eu vi! Porque ele é culpado !
— Você não tem prova nem testemunha.
— Mas senhora! — disse Norberto se desesperando. — Essa tesoura não é do seu filho?
— É, e daí?
— Eu peguei dele quando ele estava cortando o banco.
— Tem prova disso? Você pode ter pedido emprestado.
— Pergunta pro seu filho !
— Ele é menor de idade, não é responsável para testemunhar e não pode responder judicialmente.
— Senhora! Pare de palhaçada !
— Além de acusar o meu filho ainda me chama de palhaça ? Pra mim parece que você mesmo cortou os bancos com a tesoura do meu filho pra ganhar algum dinheiro.
Norberto ficou sem reação.
A mulher continuou :
— Vou te processar por extorsão, calúnia e acusação infundada contra menor incapaz.
A mulher virou as costas e entrou na casa com o menino, Norberto entrou no ônibus e foi embora sem acreditar no que acabara de acontecer.
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