Ernesto, herdeiro dos negócios da família Stracci, decidiu verificar como estava o restaurante mais antigo da Família. Lembrava de que quando criança, acompanhou várias vezes o pai, quando este gerenciava o estabelecimento. O “Stracci” era o restaurante mais famoso da cidade, e através das décadas, seu estilo romântico formou vários casais. Era amplo, com uma iluminação indireta e muitas velas. Vasos de flores naturais em todas as mesas, e em um canto, um jukebox com músicas românticas de algumas décadas atrás. Fora do restaurante uma chuva fina caía e molhava a rua.
Depois de ter verificado algumas coisas na cozinha, decidiu conversar com alguns clientes. Se aproximou de um casal jovem que estava jantando e puxou assunto, pediu a eles o que achavam do restaurante, ofereceu um vinho Italiano que eles prontamente aceitaram. Ernesto olhou para a entrada e reparou em um senhor idoso entrando a passos lentos e de bengala. Pediu licença ao casal e foi falar com o idoso.
— Boa Noite Senhor! Bem vindo ao Stracci! Como posso lhe chamar? — Perguntou Ernesto puxando a cadeira para o idoso sentar.
— Obrigado! Me chamo Francesco Romano. — Respondeu ao sentar na cadeira e se acomodar.
— O que deseja Senhor Romano?
— Apenas um espaguete e um bom vinho.
— Meu irmão tem uma vinícola na itália, a safra do ano passado foi excelente! Gostaria de experimentar?
— Sim! Deve ser ótima!
— Sandro! — Ernesto chamou o garçom que estava mais perto.
— Uma garrafa de vinho Stracci e um Espaguete a Carbonara.
O garçom ouviu e imediatamente foi para a cozinha.
— Você é filho de Henrico Stracci ? — Perguntou Francesco.
— Sim senhor. Herdei esse restaurante dele!
A música do Jukebox acabou, um homem se aproximou e escolheu outra música.
— Conheci o seu pai! — Continuou o senhor Romano — Um homem notável!
— Sim, ele tinha um comportamento agradável. — Apontando para uma cadeira vazia perguntou:
— Se importa se eu lhe fizer companhia?
— De maneira nenhuma. Sente-se. — Ernesto sentou-se à frente do homem.
— Eu lhe conheci quando você era um garotinho — Disse o senhor Romano — Você andava pelo restaurante ajudando seu pai com alguns pedidos. Tão carismático quanto ele. Os clientes lhe amavam, acho que não mudou muita coisa. Minha esposa gostava muito de você. Mas você era uma criança ainda, acho que não se lembra dela.
— Não lembro muito daquela época. Qual é o nome dela?
— Bertha — Respondeu o senhor Romano pensativo.
Ernesto viu que algo na conversa havia deixado o idoso triste. Assim, decidiu mudar de assunto:
— Alguma comemoração ou motivo especial que o trouxe ao Stracci esta noite?
— É uma comemoração triste. Eu e Bertha sempre viemos aqui. Eram noites muito agradáveis. Pedíamos uma janta, uma garrafa de vinho, falávamos sobre a vida. Posso afirmar que esse lugar nos mantinha unidos, nos afastava da rotina e dos problemas. — Romano fez uma pausa e degustou um gole de vinho, depois continuou — Vivemos anos felizes juntos, mas ela não suportou uma cirurgia e faleceu. Fazia anos que eu não vinha aqui. Não conseguia, tudo aqui me fazia lembrar dela, e não estava pronto para recordar. Mas a alguns anos eu consegui, e depois disso todos os anos, no dia em que faríamos aniversário de casamento, eu venho comemorar os anos felizes que passamos juntos. Hoje, nós faríamos 47 anos de casados.
— Sinto muito por sua perda — falou Ernesto.
— Obrigado — Respondeu Romano.
Depois disso houve uma pausa na conversa. Até que um cliente se aproximou do Jukebox e escolheu uma música. O som de piano ressoou pelo ambiente. Nesse momento Romano escondeu o rosto com as duas mãos e se curvou para frente. O idoso tirou uma mão do rosto e a colocou no bolso para pegar o lenço. Ernesto pôde ver o olho vermelho e as lágrimas no rosto do homem. Romano começou a enxugar as lágrimas e ficou em silêncio por um tempo. Vendo que Ernesto estava sem entender, disse pausadamente e tentando conter as lágrimas :
— Essa música, era a nossa música, Bertha a amava.
—
Publicado originalmente em 22 de Maio de 2020.
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