Enfim noivos, fomos procurar um abrigo. Priscila estava convencida a contatar uma imobiliária, mas a convenci que seria divertido andar pela cidade em busca de um aluguel compatível com os nossos gostos e nosso bolso (do it yourself). A estratégia é sair por aí pedindo se alguém sabe de um amigo do vizinho do primo querendo alugar algum cafofo. Confesso que nunca havia participado de algo assim, mas acreditava que seria bom me aventurar por aí entrando em contato com desconhecidos em busca de uma casa ou apartamento. Meu pai se aventurou junto, grande homem com habilidades sociais que é. Não conseguimos nada no bairro que os meus pais moram (glória, adeus). Fomos para o próximo, e meu pai querendo molhar a garganta, parou a frente do bar e foi pedir informação ao Barman (= botequeiro ou dono do bar). Esperamos no carro convictos de que ele não ia conseguir nada ali. Estávamos redondamente enganados, o Barman, de pano de prato no ombro, saiu para a calçada e apontou para um menino sentado a frente de um prédio azul de três andares, lendo um gibi.
— Ouvi dizer que o seu Estefano quer alugar o apartamento. Fala com esse menino ali que sempre anda junto dele.
Meu pai o agradeceu, entrou no carro e dirigiu até a calçada onde estava sentado o rapaz.
O carro chamou sua atenção, que ergueu os olhos, fechou o gibi e olhou para nós. desembarcamos e indaguei a ele se o Senhor Estefano estava em casa.
— Está sim! Cuidando da horta. Vou chamar ele.
O rapaz entrou no prédio e nós ficamos esperando na sombra. Logo os dois apareceram, o senhor Estefano pediu que entrássemos para ver o apartamento. Vestia camisa polo, calça social e tênis, tinha uns sessenta anos, barriga de shop mas de aparência saudável. Tinha fios de cabelos castanhos e grisalhos competindo pelo couro cabeludo do velho senhor. Perguntou de onde sabíamos que estava disposto a alugar o apartamento geminado do filho.
— Eu pedi informação ali naquele bar da esquina. — falou meu pai — o Barmen disse que ouviu alguém comentando a respeito.
— Ah sim! Acontece, talvez meu filho comentou com alguém antes de ir embora. Eu mesmo não tinha planejado alugar, mas se agradar vocês, e não me causarem incomodo, podem ficar!
— Obrigado — falei — pra onde o seu filho foi?
— Foi pra rua, virou drogado e não podia ficar mais aqui.
— Sinto muito! Deve ser difícil ter um filho nessa situação!
Estefano não respondeu, abriu a porta do apartamento com o molho de chaves que tinha no bolso e fez sinal cordial com a mão para que entrássemos por primeiro. Demos uma olhada e decidimos que esse seria nosso lar. O valor que o idoso nos pediu foi ideal, apenas nos alertou de que perturbação do sossego e da paz dele não seriam perdoados. Ele amenizou a frase com um sorriso, mas entendemos o recado. Combinamos o dia para levarmos os primeiros móveis e nos despedimos. Meu pai voltou o caminho todo reclamando. Reclamando que não conseguimos nada no bairro dele (glória, adeus).
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Publicado originalmente em 3 de Março de 2021.
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