Um menino de uns 4 anos mais ou menos, com uma chupeta pendurada no pescoço, cabelo ruivo e ondulado, veio até mim pedindo dinheiro. Eu estava sentado em uma rodoviária, distraído com minha leitura quando fui “interrompido”, mas prestei atenção pra ver como poderia ajudar aquela criança.
— Moço, tem um troquinho pra me dá?
Eu me lembrei do que professores sempre me falaram sobre crianças obrigadas a pedir dinheiro pra sustentar os vícios dos que dizem ser seus “responsáveis”. Ele tinha uma cicatriz acima da boca e em outros pontos do rosto. Me perguntei se era consequência de alguma brincadeira com os amigos, ou se ele era espancado por alguém. Eu não queria financiar isso, então queria analisar melhor a situação.
— Eu tenho. (Eu não queria dar, mas não sou de mentir).
— Me dá um troquinho, eu quero comê, eu tô com fome !
Uma mulher sentada a distância observava, sabendo que provavelmente seria a próxima, e olhando pra ver se eu ia dar o dinheiro.
— Onde estão os seus pais ?
Ele olhou para os lados e respondeu, mas não lembro da resposta.
— Me dá dinheiro moço !
— O teu pai trabalha ? — perguntei .
Impaciente ele saiu correndo, provavelmente vendo que aquelas perguntas não levariam a lugar nenhum e ele não ganharia o dinheiro. O menino não queria perder tempo. Foi direto na mulher que mencionei antes, ele pediu dinheiro e ela negou. E lá se foi ele para o andar de cima procurando uma “vítima”. Depois de um tempo, desceu as escadarias correndo com uma nota de dois reais na mão. Gritou pra mim e pra a outra mulher antes de ir para a lanchonete :
— Lero — Lero ! Me deram dinheiro !
Eu não consegui me conter e dei um sorriso. Eu não estava feliz com isso, mas a alegria dele foi contagiante. Mais tarde, ele passou correndo com uma barra de chocolate. Tirou a embalagem e a jogou no chão. Continuou correndo por toda a rodoviária pedindo dinheiro,sempre voltando pra falar com uma mulher, a quem deduzi ser a mãe dele, que aparecia de vez em quando pra verificar a situação .
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(Escrito originalmente no meu antigo blog, em 5 de Julho de 2019. Foi minha segunda crônica publicada.)
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