A pesca foi uma das primeiras profissões que surgiram e foi se desenvolvendo com o tempo. Além de profissão, se tornou um hobby. Como um dos assuntos mais comentados entre os homens, as experiências de pesca ganharam algumas adaptações. A versão mais famosa é a do peixe gigantesco que o pescador fisgou. Um verdadeiro monstro.
Em algumas estórias o pescador confessa que não estava preparado pra tirar um peixe daquele tamanho da água, em outras ele conseguiu, mas a única testemunha era outro pescador de crédito duvidoso. Pode até ser verdade, mas a gente prefere não acreditar. Com isso veio a má fama, as famosas “estórias de Pescador”.
“O velho e o Mar” poderia quase ser descrito assim. Porque o pescador Santiago fisga um peixe do tamanho da sua canoa. Mas seria um resumo injusto com uma obra tão valiosa, além de ser uma obra de ficção. E apesar de Santiago fisgar esse monstro, ele não ganha nenhuma vantagem e ainda sofre tanto quanto o peixe.
Essa não é uma opinião profissional, estou escrevendo essa crônica para mostrar como esse livro me impactou. Eu comecei a ler outros livros de Hemingway. Mas só terminei o velho e o Mar, por estar entre os livros para terminar de ler em uma tarde. Eu até desejei que a leitura durasse mais tempo, mas acabou, foi o melhor de Hemingway, e não vou falar a ele o tamanho do livro que ele poderia ter escrito. Muitos criam interpretações sobre o livro, contrariando o próprio autor, que afirmava que não havia nada a ser interpretado.
Mas dá para notar que Hemingway procurou evitar seus temas costumeiros. O autor estava conhecido por abordar assuntos polêmicos na época. Palavrões, armas, caça e guerras eram usados frequentemente, pelo que eu ouvi falar e um pouco que eu li. Mas nessa última novela, ele falou sobre o mar, sobre um velho pescador, um menino, um peixe, uma relação de amizade e outra de subsistência.
O velho Santiago me fez lembrar do meu avô, eu não o conheci, mas sempre ouvi falar de um costume que ele tinha. A casa dele e da minha vó ficava perto de um pequeno rio que atravessa o vale chamado de Caçadorzinho. Quando chovia, ele arrumava a vara de pesca, fazia um “Paiero” (cigarro) grosso com palha de milho e bastante tabaco. Esperava a chuva passar e ia pro rio. A fumaça do cigarro espantava os mosquitos e depois de um tempo ele vinha pra casa com alguns Jundiás pra fritar. Acho que ele nunca pescou um peixe tão grande quanto o Marlin do Santiago, mas afinal, na pescaria, o que vale é a emoção.
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Publicado originalmente em 8 de Maio de 2020.
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