Ouvi várias vezes na minha vida, palavras nada elogiosas com respeito aos atravessadores, pessoas que compram produtos das propriedades rurais e revendem para alguma empresa ou ao consumidor final. Sempre pensei que essa raiva era por causa de alguma inveja, por os atravessadores ganharem um bom dinheiro em tão pouco tempo, apenas revendendo. Até criei uma certa admiração, por eles se prontificarem a ser a ponte entre o produtor rural e o consumidor final. Um trabalho útil com um resultado honesto.
Há vários anos convivo com muitas reclamações sobre preços. Principalmente de agricultores e produtores rurais, com seus desabafos, alegando que o preço dos produtos agrícolas de que seu sustento depende, não sobe proporcionalmente ao preço dos comércios, onde precisa comprar mantimentos e insumos para continuar na profissão.
Recentemente consegui compreender o que os mais antigos mencionam sobre os atravessadores desde a minha infância. É claro que o comentário mencionado no início é generalizado, e existem atravessadores honestos e que valorizam o trabalho dos produtores. Mas essa ação de facilitadores foi denegrida pela ambição de pessoas que não se importam com o verdadeiro valor dos produtos, ou pelo menos, não dão o devido valor a quem os cultiva.
Coloquei o porco da crônica “Coisas de Cachaço” à venda. Algumas pessoas se interessaram, mas das conversas de Whatsapp, uma me chamou a atenção. A primeira pessoa que estava prestes a vir comprar o porco pediu se podia fazer uma proposta. Permiti, afinal é o primeiro porco que eu coloquei à venda. Primeiro sugeriu que, pelo que ele viu na foto, o porco tinha menos peso do que eu havia calculado. Depois falou que o porco daria muita banha e deu a entender que isso era indesejável.
No início me senti atraído à conversa do sujeito, mas depois de receber um conselho familiar e analisando com calma, percebi que desvalorizar tanto o animal, sem ao menos vê-lo pessoalmente, já deve ser atitude de uma pessoa que desvaloriza o que almeja, até conseguir pelo menor custo possível.
Depois de anos alimentando o porco e esperando que ele ficasse o mais pesado possível, com muita banha, recebi a notícia de que a gordura iria diminuir seu valor! Agora eu teria que o colocar em uma coleira e levá-lo passear. Ou melhor, levá-lo à academia por algumas horas diariamente e alimentá-lo com peito de frango e Whey Protein. Depois de alguns meses ligaria ao possível comprador e perguntaria: “Quanto você paga por um porco marombeiro?”.
Ele mencionou que poderia vir outro dia avaliar o porco, mas mencionei que seria melhor eu vender para alguém mais conhecido, visto que eu nunca o havia visto na vida e seu sobrenome era meio suspeito (coisa típica de cidade pequena). Logo após outro homem entrou em contato, já marcando o horário para vir negociar o porco no outro dia. Como o combinado, apareceu ele, meu ex professor de artes e um vizinho a quem ele tinha mencionado sobre o meu anúncio e seria o comprador. Ao olhar o porco, calculou um peso maior do que eu havia calculado com a fita métrica e algumas contas, e ofereceu um valor por quilo do animal maior do que o outro havia oferecido. Combinamos os detalhes da venda e eles foram embora.
Umas horas depois apareceu o interessado que havia colocado defeito no suíno a cada áudio mandado. Agora era tarde, expliquei, alguém mais sério havia arrematado o porco de manhã. Mesmo assim quis ver, e fomos até o chiqueiro. O porco devia ter mesmo o preço que eu anunciei, reconheceu. Falou que gostava de comprar porcos de pequenos produtores porque a banha era melhor. Concordei, mas banha não é muito boa nos porcos dos outros.
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Publicado originalmente em 04 de Novembro de 2023.
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