Certa vez, em uma atividade escolar, me empolguei com a ideia de admirar as estrelas à noite. Não lembro exatamente como era essa atividade, mas tenho a impressão que era para escrever algo sobre as estrelas, sobre a sensação de apreciá-las à noite ou algo assim. Eu as conhecia, admirava, mas nunca havia passado muito tempo às observando, deitado fora de casa e olhando o céu. Cheguei em casa e comecei a me preparar para ficar a noite inteira deitado em uma barraca improvisada no jardim.
Peguei algumas estacas e cravei na terra, amarrei uma lona por cima e estava pronto o meu abrigo improvisado, um “observatório”. Estava ansioso para poder deitar em baixo do abrigo e observar as estrelas, esperançosamente tentar contá-las. Nunca havia acampado, e essa aventura de passar uma noite deitado no jardim era gratificante mas também assustadora. Fui criado acreditando que leões existiam aqui nessa região, e que jaguatiricas e suçuaranas andavam à noite em busca de carne humana. Mas a tarde foi passando e se não me engano, meu pai me ensinou que não têm como ver as estrelas em um dia nublado. Foi mesmo, sem chance, céu escuro e sem estrelas visíveis, fui dormir na minha cama quentinha. Depois disso vieram novas decepções. Cada fenômeno mencionado pela mídia me entusiasmava de início, até lembrar que muito provavelmente, com toda certeza, eu teria de viajar para outra região se quisesse vê-lo.
Admiro pessoas que pesquisam tanto sobre o universo, anos luz, gravidade, planetas, estrelas, rotações, galáxias, etc. Porém, tenho algumas limitações quanto a isso. Uma certa ansiedade e pessimismo. Uma tarefa divertida, de contemplação, como deitar na grama e observar as nuvens ou estrelas, pode se tornar uma “tortura”. Tudo lindo e maravilhoso por um tempo, mas logo o medo de altura reverso me diz:
– E se por algum acaso a gravidade da terra sumir e eu cair daqui?
É um pensamento leigo, de insegurança, como se o universo fosse um teto e houvesse um final, como se a gravidade tivesse validade pra acabar, e que a gravidade de outro planeta me fisga-se. Nisso fico indeciso se devo pesquisar mais sobre o universo. A ideia me encanta, mas, se eu fico com pânico dentro de um veículo em movimento quando não sei pra que direção ele está indo, que conforto eu teria em saber outras coisas como por exemplo, que a terra viaja no universo com uma velocidade semelhante a uma bala de espingarda? Ela já está nessa rota há tantos anos e ainda não têm nenhum arranhão na lataria. Mas como me pergunto no carro: “E se …?” Parece que pode acontecer qualquer bobeirinha e meia galáxia virar sucata. Nesse caso, o universo aumenta ou diminui?
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Publicado originalmente em 18 de Novembro de 2023.