Vida Praiana

Photo by Rodrigo Menezes
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Calor te lembra o quê? Sorvete? Ventiladores? Piscina? Aqui está um calor impressionante, ainda mais para as pessoas que imaginam que a serra é um lugar muito frio. Na verdade é um lugar bem temperado, frio abaixo de zero nas manhãs de geada e sol de rachar no verão, mas não é tão frio como nos pólos e nem tão quente quanto nos desertos. O que me impressiona é que essa onda de calor me fez lembrar a vida praiana, por mais que me considero um serrano convicto. Gosto do clima mais ameno, de montanhas e pinheirais.

Por muito tempo fiquei sem conhecer o mar, a primeira vez que vi, não pisei nem na areia e estava dentro de um ônibus contemplando a paisagem encantadora. Na segunda vez que fui para o litoral, conheci a praia, pisei na areia e entrei até os joelhos no mar revoltoso, a excursão escolar só parou uma meia hora, e o tempo estava nublado, frio e com muito vento. Mas deu tempo de meus colegas encontrarem o corpo de uma tartaruga e fazerem um singelo funeral. Pronto, entramos no ônibus e viemos embora, já tínhamos passado o final de semana em um parque aquático e eu não via a hora de voltar para o sítio. Depois de um ano pude retornar, e dessa vez consegui aproveitar a praia com todos os seus gostos e desgostos. Foi uma experiência maravilhosa estar com meus amigos em um ambiente tão lindo (falo com medo de a serra que me criou se sentir traída). A experiência foi mais intensa do que eu imaginava, muito mais imersiva do que apenas observar a areia e as ondas pela TV. Com isso minha atitude mais ranzinza passou a contar pontos negativos.

Areia, muita areia, nos pés, nos braços, no rosto e por lugares inimagináveis. As lapadas das ondas irritando o nariz e garganta com salmoura, enquanto um dia inteiro passa e quase ninguém vai ao banheiro. Os braços grudando na cintura com uma gosma de origem duvidosa, me fazia pensar se era apenas o sal na água ou algo mais “artificial”. Os vendedores de drinks coloridos atrás dos arbustos brincando de bartenders usando a água do riacho marrom. Outra coisa que me impressionou mas que não existe apenas no litoral, quando puxei conversa com um homem que estava no mar e em uns cinco minutos de conversa sobre o movimento de pessoas na praia, fui exposto a uma quantidade enorme de palavras de baixo calão.

A partir do segundo dia o sol me aflige e sou obrigado a ficar na areia em uma sombra curtindo o vento, tanto é que nas primeiras férias na praia me apelidaram de Peppa Pig, e eu acrescento: “à pururuca”. Mas por outro lado, agora nesse calor exaustivo que faz aqui, me lembro de algumas maravilhas da vida praiana. Fico com saudades da sombra e do vento gostoso e às vezes maçante, os pés na areia, acompanhando com os olhos os vendedores ambulantes trabalhando e as pessoas aparentemente felizes brincando na água, os barcos pesqueiros no horizonte com o ronco de seus motores a diesel. Deitar na cama, fechar os olhos mas ter a sensação de ainda estar no mar se equilibrando e ouvindo nitidamente o som das ondas retumbando dentro da cabeça. Talvez algo que me faz lembrar da praia é o desprendimento, a liberdade, parece que tudo é passageiro, o mar leva e o mar traz, o mar cura, o mar adoece, preserva e corrói.

03/12/23

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