Em um dia de chuva

Mesmo com o tempo nublado, os cavalos foram buscados na pastagem e ganharam uma porção de milho. Comeram enquanto eram envoltos por cintas de couro e peças de madeira. Ele terminou de afirmar os arreamentos, passou a mão na pelagem brilhante e sorriu satisfeito com seus animais. Consultava os céus, mas nenhum sinal de sol era visto no horizonte. Escutou passos na direção da casa, era Ela, que lhe trazia o casaco, preocupada que o frio e a humidade lhe fizessem mal. Sentiu vontade de esbravejar, que Ela não se preocupasse, mas a compreendia e levava em conta que não era mais rapaz.

Vestiu o casaco, pegou as rédeas e com um “resmungo” deu o comando e fez os animais andarem. Caminhou alguns minutos conduzindo-os até que sentiu os pingos da chuva caindo em seu chapéu. Tinha que retornar, deu meia volta aos cavalos e os atiçou para andarem depressa. Quando chegou novamente em casa, tirou o arreamento e os prendeu dentro da estrebaria. Entrou em casa e recebeu ordens para que se secasse e vestisse roupas secas. Obedeceu.

Ela estava entretida tricotando algo na cadeira de balanço à frente do fogão. Ele procurou o rolo de fumo na prateleira, sentou na caixa de lenha encostada na parede e começou a processar cuidadosamente seu tabaco com o canivete. Já havia ganhado experiência, durante vários anos, maltratando o pulmão. Deixou de lado a tarefa e abriu a porta do fogão para conferir o fogo.

Restavam apenas brasas e a lenha da caixa havia acabado. Pegou o balde e foi pegar mais lenha na pilha da varanda. Quando retornou, colocou um pouco da lenha no fogo e o restante na caixa. Sentou novamente, pegou o cachimbo da prateleira e deu umas batidinhas com ele na quina do fogão para tirar as brasas e os resquícios de tabaco velho. Depois o encheu com o fumo que havia preparado, pôs o cachimbo na boca e o acendeu com um fósforo.

E assim foi se passando aquela manhã chuvosa.

Publicado originalmente em 25 de Fevereiro de 2022.

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