A escola decidiu fazer um espetáculo para as crianças. Contrataram o melhor mágico da cidade, que já faz sucesso pelas cidades vizinhas. Mohamed é profissional, com roupa e bigode pretos, cartola, nunca revela seus truques, e faz questão de treinar muito.
Reuniram todas as crianças no pátio, ordenaram que todos se acomodassem em suas cadeiras e fizessem silêncio. Após alguns segundos, a diretora revelou a surpresa, e Mohamed fez sua entrada triunfal, som de trovões e muita fumaça. As crianças caíram na gargalhada.
— Calma crianças, ele é mágico, não palhaço.
Após muito esforço, as crianças se contiveram. Mohamed tirou o coelho da cartola. As crianças caíram na gargalhada. A diretora mais uma vez pediu silêncio. Em anos de mágica, Mohamed nunca havia visto algo assim. Sua realização como artista era ver as crianças assustadas, chorando ou correndo de medo. Sua auto estima dependeria do sucesso das outras mágicas. Decidiu apelar para as mágicas mais espantosas, cortar o próprio dedo, serrar uma menina ao meio, a caixa de espadas, e outras. Mas as crianças não colaboravam, era uma gargalhada geral. Mohamed ficou destruído, saiu do palco sem se despedir das crianças, sem aquela explosão de fumaça que o fazia desaparecer.
Você foi ótimo Mohamed! Elas te amaram! — Disse a diretora.
— Concluiu isso pelas risadas? No meu ramo, aquilo ali foi uma falta de respeito. Onde já se viu, rir de um profissional do mistério? Vou reclamar no sindicato. E quero o dobro do cachê.
A diretora não concordou. A noite, quando foi fechar a diretoria, deu de cara com Mohamed tirando dinheiro do cofre.
— Só estou tirando a minha parte.
— Como conseguiu abrir o cofre?
— Como a senhora mesmo disse, sou mágico, não palhaço.
Em seguida ouve uma explosão de fumaça, e o mágico, desapareceu. A diretora achou melhor não chamar a polícia.
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Publicado originalmente em 11 de Agosto de 2020.