As sementes de ideias estão por todos os lugares. Quase tudo pode ser escrito, enfeitado, melhorado e embalado como crônica. É estranho e, talvez por ser assim, a crônica pareça algo infinito, farto, e nada precioso. Mas o fato é que, por mais que hajam coisas aparentemente simples a serem escritas, ser cronista requer um faro especial, a habilidade de transformar situações e lembranças em ideias, selecioná-las, e por fim escrevê-las de uma forma interessante.
Com o passar do tempo, ocupado e distraído com uma variedade de coisas, fui perdendo essa sensibilidade, a qual eu havia adquirido por alguns meses. Ultimamente uma rotina costuma se repetir, muito casualmente surge uma lembrança saudosa ou amarga, e penso que com jeitinho e um tempo sentado com o computador à minha frente eu escreveria uma crônica encantadora. Mas raciocino, penso nas variáveis, se teria algo a acrescentar e formar um número aceitável de palavras. Quando sento e vou escrever, me deparo com a terrível tela em branco, exigindo palavras e me cobrando coisas grandiosas. Daí concluo que talvez a tela em branco seja melhor assim, vazia, tenho medo de preencher um espaço vazio com algo inútil, e penso que talvez meu silêncio seja o que todos precisam. Então me emudeço, as ideias se desvanecem, e a tela permanece branca, intimidadora, com algumas linhas breves, novas ideias esquecidas e enterradas.
Porém com o tempo percebo que escrever não é necessariamente sobre o que eu tenho a contribuir com outros, ou que meus textos devam ser uma grande revolução. Fernando Sabino por exemplo, um dos cronistas mais conhecidos, afirmava que escrevia coisas de que não sabia, para depois de escrever, ficar sabendo. Achava essa afirmação muito bonita, e ao mesmo tempo absurda, me perguntava como isso era possível. Agora o entendo em parte. A escrita precisa ser a concretização de algum aprendizado, o resultado dos estímulos a que me submeto. Então em vez de me preocupar excessivamente com a qualidade dos textos, devo me perguntar se estou tendo estímulos úteis para ter boas ideias, e o mais importante, que consiga descrevê-las. O foco agora é aprimorar essas ideias, bem como minhas habilidades de raciocínio, e saber materializar as descobertas e opiniões, em um processo de autodesenvolvimento. E assim vou ocupando o espaço das telas brancas, aprendendo e compartilhando, me completando.