– Só mais uma hora – pensou Bartolomeu.
Era Meio dia, saiu de casa ao nascer do sol e já sentia muita fome. O cavalo mostrava alguns sinais de cansaço, mas seu dono havia cavalgando a manhã inteira em um trote lento, contemplativo. Chegaram a um pequeno riacho e Bartolomeu apeou. O animal abaixou a cabeça e começou a beber água, enquanto o cavaleiro tirou do alforje um pedaço de carne seca e outro de queijo. Disfarçou a fome com os aperitivos, e aproveitou para alimentar o companheiro, lhe dando algumas espigas de milho que trouxe consigo. O céu que estava nublado desde as primeiras horas do dia, ficava cada vez mais tenebroso, e em pouco tempo haveria de cair a primeira rajada de chuva. Os morros e campos tinham uma aparência mais misteriosa nesse clima ameno, e o ímpeto de aproveitar a paisagem foi substituído pelo de chegar o mais rápido possível na cabana, fazer fogo para se aquecer e cozinhar algo mais saboroso. Bartolomeu vestiu a grande capa de couro, montou e retomou a viagem, agora em um trote mais acelerado. Em poucos minutos a coluna de chuva o alcançou, deixando toda paisagem fria e úmida, um momento bucólico. Ao seu redor, o frio e tristeza tomavam conta, seus braços ficaram à mercê da água gelada, que de vez em quando também afligia seu rosto. A capa junto ao casaco de lã mantinham seu tórax quentinho e confortável, enquanto sentia os pingos de chuva colidindo no chapéu, pingando da aba e escorrendo pelo couro que lhe protegia. Teria paz na cabana, e essa era sua esperança, o abrigo que lhe ajudaria a passar o tempo caótico em razoável conforto. Encontrou uma lebre e alguns patos, e diferente do habitual, os deixou fugirem sem tentar atingi-los com o rifle, não se sentiria bem abatendo-os enquanto a chuva castigava ambos, homem e animais, todos em sua busca por abrigo. Ao se aproximar da cabana, encontrou algumas cabeças de gado pastando despreocupadas enquanto a chuva fria escoria por sua pelagem. O capim na pequena mangueira ao redor da cabana estava grande, fazia um mês que estava ali por último, e agora seu cavalo tinha comida pelos dias que passaria avaliando e cuidando do gado e das cercas. Entrou na mangueira, tirou a sela e soltou o cavalo no pasto. Deixou a cela no chão da varanda, tirou o chapéu e a capa de couro, pendurou-os em um prego na parede e fez o mesmo com a sela e o alforge. Bartolomeu entrou, abriu as janelas para iluminar melhor o cômodo e foi fazer o fogo no fogão para aquecer a cabana, coar café e cozinhar algo. O fogão ficava no centro da cozinha, era uma mesa coberta por tijolos, com um chaminé de tábuas que conduzia a fumaça para fora. As panelas e chaleiras eram penduradas em um gancho acima do fogo, ou acomodadas em cima das brasas caso fosse necessário. Bartolomeu colocou dois paus de lenha sobre os gravetos em chamas, lavou a chaleira de ferro e a panela, depositou a chaleira de ferro ao lado do fogo para ir esquentando e pendurou a panela na corrente. Cortou alguns ingredientes e os colocou na panela com banha para irem fritando.
A chuva foi enfraquecendo, e alguns raios de sol apareciam tímidos. A madeira estalava ao fogo, e os temperos fritavam na panela, perfumando o ambiente. A fumaça obrigou Bartolomeu a ir até a varanda à procura de ar fresco. Observou o gado pastando longe, a grama verdejante e molhada, refletindo o brilho do sol. O homem ao observar as realizações do criador, pensava na vida, nas dores e ambições.
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Publicado originalmente em 30 de Janeiro de 2024.