Daqui Cinquenta e nove anos...

No asfalto que dá acesso ao município em que eu moro, foi construido um portal. Já fazem alguns anos e eu ainda não o apreciei adequadamente, em grande parte devido à pandemia, outra parte porque não me interesso muito mesmo. É só um portal, vou passar muito por lá, talvez até enjoar.

Portal esse que foi construído para o centenário do município. Não, não vou escrever qual município, talvez você já saiba. Essa página será indexada ao mecanismo de busca do google e não quero que ela seja exibida quando alguém pesquisar o nome da minha cidade. Talvez mais tarde eu mude de idéia.

Mas o que mais chamou a minha atenção sobre o centenário é a cápsula, a cápsula do tempo. Não sei o tamanho, não sei exatamente o que há dentro. A poucos minutos atrás eu nem sabia onde ela foi colocada. Mas é uma cápsula do tempo, lacrada com artefatos do presente que algum dia desenterrados farão referrência ao passado.

Apenas um tempo depois da inauguração eu fiquei sabendo sobre a tal cápsula do tempo em um post no facebook sobre o centenário. Pesquisando mais para escrever essa crônica, li que ela será aberta em dois mil e sessenta e nove. Fiz as contas e nesse período, terei sessenta e nove anos (repare o otimismo).

O conceito de cápsula do tempo é incrível. É algo que provavelmente você já saiba, mas quero confirmar. Já faz aproximadamente um ano desde que ela foi lacrada, e provavelmente se fosse desenterrada hoje, já traria uma fina poeira do passado, algumas mudanças que ocorerram nesse tempo ficariam perceptíveis. Imagina com sessenta anos!

Idosos (atuais jovens) vão lembrar da juventude, das pessoas que partirem antes desse ano chegar, teremos novos jovens e talvez uma próxima cápsula.

Provavelmente será como hoje abrirmos uma cápsula e tirarmos de dentro dela discos do Bee Gees, Elvis, algumas calças boca de sino, pochetes, polaroides. Um mix de bregas e clássicos.

Quem sabe se irão desenterrar um pendrive com o clássico CANETA AZUL (azul caneta), algumas da Maiara e Maraísa, e irão até um museu fazer a revelação do conteúdo porque pendrive será coisa do passado (nosso presente). Abrirão envelopes com rabiscos de crianças, jornais, revistas, cartas que parecerão páginas de um diário.

Infelizmente, algumas cartas sobrarão no fundo, pois perderam o remetente que seria o futuro destinatário. Seus descendentes então ficarão gratos por ele ter tirado um tempo a sessenta anos atrás (no ano passado), e terão um gostinho do centenário.

Esqueceram de me avisar pra deixar algo para o futuro, mas talvez alguém lembrou de mim e dedicou uma carta, só o tempo dirá, daqui cinquenta e nove anos.

25/10/2021

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