Almoço de Avó

Provavelmente você, assim como eu, tem uma quedinha a mais pelo almoço da vó do que pelo da mãe. Difícil explicar se realmente é mais gostoso (como se a cada geração as famílias perdessem esse talento), ou se é o fato de ser algo novo, acompanhado das boas sensações de casa de vó.

Acredito não ter escondido da minha mãe que preferia sempre a carne de panela preparada pela mãe dela. Uma vez acrescentei que talvez era algum tempero especial que a minha avó colocava, e para minha surpresa, ela disse que a dona Alinda usava apenas sal.

Uma coisa complicada do almoço de vó, é a falta que ele/a faz. As avós passaram a vida cozinhando(na maioria das vezes), mas não cozinham para sempre. Uma hora o fogão a lenha se apaga, e o a gás, aquele em que ela empenhava todo cuidado para não explodir a casa, deixa de funcionar. Ou em casos raros são preservados pelos descendentes, vendidos, ou, simplesmente viram sucata. Mas aquele cheiro ou gostinho ficam na memória.

Aprendi na marra a cozinhar, e dou meus pulos na cozinha, meu arroz carbonizado é uma delícia. Minha mãe e minha avó moram juntas em uma outra casa aqui no sítio, e quando minha mãe vai resolver os problemas na cidade, fico incumbido de cuidar da minha avó. Esses dias fui pegar ovos e farinha na casa delas para fazer uma macarronada para mim, e conferir se a minha avó estava bem e esquentando o almoço. Falei com ela e ela me explicou que estava com a cruel dor nas costas e só conseguiu descascar umas batatas antes de ir para a cama descansar.

Notei que se eu não fizesse algo, ela ia ficar sem almoço. Fiz o fogo no fogão e voltei para casa pegar a água que eu havia esquentado para o chimarrão. Coloquei o feijão da geladeira e coloquei esquentar no fogão, piquei as batatinhas que ela descascou e coloquei cozinhar, comecei o arroz, fritei pedaços de mandioca cozida, fiz o chimarrão e tomamos enquanto ela estava sentada na cadeira cheia de almofadas da cozinha. Ela olhava uma panela e perguntava:
— O que tem ali?
— Feijão vó! — eu respondia.
Depois de um tempo ela repetia a pergunta e eu voltava a explicar o que tinha nas panelas. A dor nas costas lhe venceu novamente e ela foi para a cama. Terminei o almoço e estava me preparando para servir um prato para ela quando ela disse que comeria depois e que eu podia me servir e almoçar antes que ela. Fiz a sua vontade, coloquei as conchas nas panelas, me servi, almocei e voltei para a minha casa.

A noite quando minha mãe voltou, minha avó tinha feito o almoço, não me vira e não sabia o que eu havia comido de almoço. É, parece que o jogo virou, ela não quer admitir, mas almoço de neto é uma delícia.

Publicado originalmente em 18 de Maio de 2021.

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