Em um caminho estreito e pedregoso, o homem de roupa camuflada e mochila grande nas costas caminhava lentamente, batendo um galho seco no chão. Onde havia uma pedra ele empurrava e batia algumas vezes, pequenos montes de pedras ou folhas também eram revistados. Sabias precauções, era terra do inimigo, desconhecida e cheia de perigos. Logo apareceu outro, com menos paciência, vestia o mesmo uniforme e diminui o passo pela falta de pressa do companheiro. Buscava seguir na mesma velocidade, e via a demora como perda de tempo, e é claro, ele sabia se desviar de vários perigos, já não via necessidade de se cuidar tanto.
Pediu para que o outro fosse um pouco para o lado a fim de passar, o primeiro homem obedeceu, foi na direção do paredão e deixou espaço para o colega passar. Aproveitou a pequena pausa para tirar o cantil da mochila e tomar água. Guardou novamente, pegou a vara e continuou caminhando sempre atento a qualquer vestígio no chão.
Logo escutou uma explosão e um grito agonizante com a voz familiar do homem que acabara de passar por ele. Alguns minutos se passaram e o encontrou deitado ao lado de uma cratera aberta no chão, enfaixando com uma tira de pano do kit de emergência a perna estraçalhada. Sangrava, a terra e as mãos estavam vermelhas, o companheiro decidiu ajudar:
— Deixa que eu enfaixe isso — disse se abaixando e pegando o rolo de tecido das mãos do companheiro.
— Foi uma mina! — disse entre gemidos de dor.
— Acha que eu não sei?
Terminou de efaixar a perna do homem e procurou um galho que, acrescentado de algumas faixas de tecido, serviria de muleta. Fez os ajustes, ofereceu comida ao ferido, água e uns goles de um destilado duvidoso. O ajudou a se levantar e equilibrar o peso na muleta improvisada, pegou o galho que estava usando para detonar as minas e perguntou:
— Se importa se eu for na frente?
Ao ver que não havia objeção, começou a caminhar novamente, batendo sempre o galho no chão.
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Publicado originalmente em 15 de Outubro de 2022.