Crueldade Presumida

De vez em quando, conferindo os vídeos curtos nas redes sociais, encontro um tipo específico de vídeo. Com uma música triste, grunhidos de alguns animais, e geralmente um narrador fazendo um apelo ao bicho homem. Animais aparentemente tristes, galinhas em gaiolas minúsculas, vacas com lágrimas nos olhos, porcos cabisbaixos. Corredores de açougue e transportes desumanos. E é claro, condenando o consumo da carne, dos ovos e quase tudo que é de origem animal. Bem, eu fico mal. Começo a questionar se realmente devo comer carne, ou até mesmo criar animais para o consumo. Fico indignado com as várias gerações que permitiram que os açougueiros viessem ao mundo. E agradeço por alguém de bom senso me mostrar essa “verdade tão cruel”.

Mas ainda no meio do vídeo, penso: “Cresci convivendo com animais de vários tipos, então por que eu preciso de um vídeo curto pra me mostrar a “realidade”?” Conteúdos assim são recortes pessimistas da minha realidade, que começam a me convencer de coisas que, com base no meu dia a dia, eu sei que não são verdade. Entendo que pessoas cruéis exploram de forma deplorável os animais. E sei que muitas vezes, os grandes criadores ganham dos produtores familiares em bem estar animal. Mas essas montagens inúteis dão a entender que os animais podem prever seu futuro. E que ficam tristes por ter essa antevisão do fim. Que ovelhas sofrem para produzir lã, e que galinhas sentem uma dor absurda ao pôr ovos. Que cavalos são mártires ao puxar carroças ornamentais. E que criadores deploráveis ganham muito dinheiro com animais esfomeados, doentes, tristes e mal cuidados.

Entrei em alguns desses perfis veganos que propagam vídeos de “sensibilização” contra o consumo de carne. E o que encontrei? As exceções. Vi um boi com uma aparência miserável, que deve ter dado um pouco de prejuízo pra o pecuarista. Com certeza essa não era a intenção daquele homem de negócios, e alguém foi lá, ignorou todo o rebanho sadio e filmou o que havia de pior. É o tipo de coisa que é compartilhada com a frase: “o que não querem que você saiba”. Ora, talvez porque não seja algo que todo mundo deva saber! Sabe aquele erro profissional que você cometeu, que te deu prejuízo e é uma exceção do trabalho bem feito que você realiza? Imagine que alguém procure esse erro, registre e publique alegando que o seu trabalho é um desserviço para a humanidade. Assim agem esses perfis sensacionalistas, como abutres atrás do que deu errado: “venham ver esse sofrimento!”.

Encontrei um vídeo de um frango respirando fundo e meio desorientado, com um som agonizante que claramente foi adicionado ao vídeo, junto a uma música macabra para aumentar a sensação de sofrimento. O que seria dessas cenas sem as músicas dramáticas? Eu também teria dó dos porcos no meu chiqueiro se tivesse alguém tocando um violino murmurioso por perto. Feridas pequenas se tornam grandes dores quando acompanhadas das músicas certas. E por acaso não é assim que age a concorrência inescrupulosa? Será que por trás dessa exaltação da desgraça, da criação de um problema, não há uma solução milagrosa disponibilizada por um certo preço?

Apesar de gostar da natureza, dos animais e das pessoas, vários pensamentos atuais dessa relação entre os seres me soam muito ridículos. Parece que o ser humano deve pisar descalço em cacos de vidro ao tentar ganhar a vida no campo. E aparentemente isso é, como outras coisas, resultado da realidade paralela das grandes cidades. Os animais ganham ares de inocência divina, que nascem e morrem apenas para agradar fazendeiros sem compaixão, que visam apenas ganhar seus milhões de reais de forma repugnante. 

E realmente vejo casos inaceitáveis de violência contra os animais, sem motivo, justificados apenas pela crueldade humana. Mas isso não me faz pensar que os animais de forma geral são superiores ao ser humano. Pensamento esse que já está bem difundido pelas redes sociais. Vejo pessoas que são tão preocupadas com “o bem estar animal”, mas extremamente tóxicas com outros seres humanos. Um caminhão de porcos tomba em uma curva, não se sabe se o motorista saiu vivo, mas nos comentários algumas pessoas já acharam a solução: “pena de morte para maus tratos”. Sim, o bicho homem é realmente cruel, comendo carne ou não.

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