Aparentemente a embreagem é o pesadelo dos motoristas iniciantes. Não para todos, mas está sendo o meu. Sempre ouvi reclamações (e memes) sobre a dita embreagem. Nas aulas de carro, já aprendi a lição, soltar levemente o pé do freio e, depois de alguns segundos, quando o carro estiver em movimento, desembrear sem preocupações. Mas agora preciso corrigir o pé, na troca de marcha, aprender a aliviar a embreagem suavemente, talvez imitando a velocidade da minha respiração. Para evitar os solavancos e fazer com que os passageiros se sintam plenos como em uma aeronave.
Apesar desse detalhe, as aulas de carro estão indo bem, e nas aulas de Moto, a embreagem me preocupa mais. Ligo, engato a primeira, dou uma leve acelerada, solto um pouco a embreagem, a moto apaga. Ouço novamente: “Solta a embreagem devagar!” Eu sei, é claro, esse é o segredo para uma boa arrancada. É algo tão simples! Aperto o botão e o motor volta a funcionar.
“Não solte a embreagem! Não solte a embreagem!” — repito em pensamento.
Acelero um pouco, solto levemente, a moto quase apaga, mas está embalada e mantém o ritmo. Dou a volta na pista, paro novamente, acelero um pouco, alívio a embreagem, e adivinha? Isso mesmo, a moto morre. “Solta mais devagar” ouço.
“Mas eu soltei devagar!” — penso. Eu sei, preciso esperar mais uns milissegundos e abrir a mão alguns milímetros a menos. Isso requer uma coordenação motora fina, tipo regular ducha barata no inverno, onde o ponto quente no registro é minúsculo, e fica entre desligar completamente ou tomar um banho glacial. Mas o ponto do chuveiro eu não preciso regular enquanto acelero e tento me equilibrar. Todo esse tato, é claro, por um propósito, eu que não quero ter de ficar religando moto abaixo de buzinaço.
A pista com instrutor é o ideal, mas devo confessar, não está sendo tão divertido como as voltas de moto que eu dei a oito anos atrás. Eu quase poderia falar que já havia aprendido a andar de moto, mas seria exagero. Depois de receber umas instruções básicas, peguei a moto do meu primo emprestada e conseguia me locomover de um ponto a outro, cometendo muitas gafes pelo caminho. Quando a moto não morria, quase ia embora sem mim, além dos sufocos tentando recuperar o equilíbrio em movimento. Nunca caí, fato que ainda me intriga. Depois de pouco tempo correndo riscos, recebi um conselho amoroso e por vários anos não subi em uma moto.
Para melhorar a minha desenvoltura nas arrancadas, peguei emprestada a moto do meu irmão. Mais didática para esse exercício, onde cada vez que tento arrancar e a faço morrer, tenho que usar o pedal para dar nova partida. E posso dizer que funcionou. Aparentemente há alguma regulagem na moto do meu irmão que torna mais fácil de achar o ponto da embreagem nela do que a moto da autoescola. Tive novas aulas e consegui fazer várias arrancadas consecutivas, apesar de às vezes me empolgar e novamente largar a embreagem de forma impiedosa.
É impressionante como um motor, algo tão forte, fica de gracinha e testando o meu desempenho. Uma combinação tão incrível de aço e óleo, com sua mistura ideal de ar e combustível sob pressão, coordenação precisa entre a injeção e as voltas do virabrequim. Um fogo controlado, quase um sopro divino. E eu o sufoco, enquanto a mente pensa mas a mão não obedece.